lembro-me vagamente de algumas coisas da minha
infância, e uma delas,
era de quando eu tinha uns quatro ou cinco anos de idade, e meu
avô
quando visitava minha casa, levava umas caixinhas de leite parmalat,
eu
adorava esse leite, acho que mais por causa da propaganda que
passava na
época, eram umas crianças vestidas como se fossem animais
de pelúcia, elas
bebiam o leite e faziam aquela publicidade fofa que faz
a gente comprar
produtos que nem precisa, enfim. meu avô me pegava
no colo, deixava eu usar
o seu boné, me sentia tão adulto com aquele boné.
ele imitava umas
vozes engraçadas para falar comigo, perguntava se eu estava feliz,
o que
eu tinha feito de bom, se estava tudo bem comigo, e todas essas coisas
bobas e simples que costumam acontecer entre os avós e seus netos.
vinte
anos após isso, eu cresci, me tornei um adulto, meu avô foi o contrário,
se tornou criança, sim, cada dia que passa meu avô se torna mais
criança,
daquelas bem puras, sem maldade no coração, bem pequena, mas
de
alma grande. e assim como uma criança, ele não pode mais ficar sozinho,
é sempre necessário um adulto por perto cuidando dele, ficou
vulnerável de saúde.
sem contar que precisa de ajuda para andar, assim como uma criança
precisa de
rodinhas de apoio para dar suas primeiras pedaladas numa bicicleta ele
precisa
de um ombro amigo para ir da sala para o quarto, do quarto para a cadeira
no quintal.
voltou mesmo a ser criança, até fralda ele usa. fico observando
ele
ali parado, olhando para o horizonte, para o nada, pensando na
vida.
me pergunto, será o que se passa na cabeça de um senhor de setenta
anos
de idade que está voltando a ser criança?
O que será que passa na cabeça desse homem-criança? Será que ela pensa ou se arrepende?
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